terça-feira, 26 de abril de 2011

Alucinante Alice



Alice resolvera ler aquela carta que guardava há anos. Colocou música na vitrola (mister se fazia o procedimento) e ouviu:

"Dentro do nosso mundo
Um outro mundo achaste
E as cores de que fala
Eu não conhecia
Alguma coisa havia antes desse espaço
No oco da nogueira um tombo no infinito
De cada biscoito tiraste um pedaço
Pode ouvir teu grito
Alucinante Alice quando você fala
Meu coração se quebra como louça
Alucinante Alice quando você beija
O mel dos anjos entra em minha boca, em minha boca, em minha boca
A porta da verdade estava bem fechada
Mas nada resistiu a chave que eu te trouxe
Da que de onde se vê ainda não se vê nada
Se não se tem os dentes presos nesse doce
De limão galego de laranja amarga, de batata doce

Alucinante Alice quando você fala
Meu coração se quebra como louça
Alucinante Alice quando você beija
O mel dos anjos entra em minha boca, em minha boca, em minha boca

A porta da verdade estava bem fechada
Mas nada resistiu a chave que eu te trouxe
Da que de onde se vê ainda não se vê nada
Se não se tem os dentes presos nesse doce
De limão galego de laranja amarga, de batata doce
Alucinante Alice quando você fala
Meu coração se quebra como louça
Alucinante Alice quando você beija
O mel dos anjos entra em minha boca, em minha boca, em minha boca"

Abriu a carta. Olhou-a bem, sem lê-la. Dobrou-a e guardou-a primeiro próximo ao peito, depois: dentro da caixa de onde a havia retirado.
O ritual lhe fora bastante para ela saber que nunca mais. Sempre racional, saberia levar sua vida até o fim com aquela decisão. Mirava a vida das irmãs (e a dela mesma) de soslaio. Evitaria. Para sempre evitaria ler aquilo que partira seu coração apenas uma vez na vida. Para nunca mais. Nunca mais. Precisava repetir em voz alta. PARA NUNCA MAIS!

Saberia Alice que também a sua própria vida ela olhava de soslaio? Saberia ela que nada mais era verdade e nem a tirava do torpor e da solidão?

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