quinta-feira, 7 de abril de 2011

A solidão iluminada

"Como amava ouvir aqueles discos mesmo que sozinha.
Que vida tão louca imaginava ouvindo as composições daquele que era o seu compositor predileto.
De repente o clarão.
Deu partida no carro e correu para a praia.
Deserta a margem. A lua invadia a cidade, a beira-mar, espalhava-se no oceano como uma moça bonita e cheia de si encarava-se em um espelho.
Desligou os faróis, sentou-se. Sentia o cheiro salgado invadir-lhe todo o ósseo corpo.
E a lua.
Compreendeu que era sozinha.
Riu de si para si.
Voltou para o apartamento.
Ligou o som.
Apagou a luz.
E agora em sua sala pensava: que lua, meu Deus!"

Fora esse o texto que Gisela esboçara um pouco antes do fim com M. Preferia falar M. M era despessoalizado, era uma letra que, algum dia, poderia julgar qualquer. Mas, não. M rasgou-lhe o coração com um só golpe quando, em silêncio, deixara as chaves de casa em cima da mesa da sala de estar e dissera apenas:
- Volto para buscar as coisas quando você estiver mais calma.
Ali M deixou de ser letra qualquer para ser a marca de sua vida. Digo de Gisela.

Alice se aborrecia com Gisela, Esther se impacientava com as duas. Mas, Gisela chorava dia e noite, telefonava para M, ficava muda, faltava às aulas na universidade onde ensinava e não podia mais ler, não mais assistia a filme qualquer...Gisela entendia apenas, ao reler o seu texto, que era só e que escrevia piegas, nunca conseguiria ser uma escritora de verdade. E, assim, à margem do que mais amava, ela se consolava em ser professora universitária e em perder o seu grande amor para uma crise boba da ciúmes.

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